Pequenas poesias, grandes histórias.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Luz


 E enfim eles estavam sozinhos e não era proibido. Resolveram assim: ela juntou o que tinha do lado de cá e ele juntou o que tinha do lado de lá, dentro de um pedaço de espaço fechado na turbulência da capital.
  Foi a maior bagunça no começo. Durante o dia, iam trabalhar. E à noite tentavam até arrumar a danada daquela bagunça, mas sempre acabavam rolando pelo chão da sala, enlaçados, já desarrumando o que se tinha arrumado. E após, exaustos e satisfeitos, o tempo que restava era para preparar alguma coisa, algum arroz meio assado e uma carne meio crua pra não passar fome, e antes de dormir, não procurar comida na rua.
  Com um tempo, acabaram conseguindo organizar aqueles trapos, mas pouco adiantava, pois ela, desleixada e desordenada, acabava tirando tudo do lugar e não sabendo onde botava. E ele, sempre seguro e compassado, perdia a cabeça porque não achava coisa alguma naquele tão minúsculo espaço. Então eles constantemente brigavam por causa de uma cama bagunçada, uma roupa amassada, uma pizza queimada e uma lousa mal lavada.
  Mas quando, na noite fria em que a solidão antes sempre se manifestava, naquele pequeno cubículo de espaço, para sua manifestação espaço não restava, pois os dois e o que tinha entre eles sempre o ocupava tornando a noite fria em dia quente até de madrugada. O amor radiava luz: luz que esquentava.

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